A nadadora de águas livres, recordista mundial, abre as portas da sua casa à Improvável. Um espaço simples e acolhedor, mas que representa um sonho cumprido e onde não podia faltar uma piscina.
A viver na Madeira há vários anos, Mayra Santos sente-se feliz e integrada. Sem nunca perder o sotaque adocicado do seu país natal, nem tampouco a contagiante boa disposição e a gargalhada fácil, a nadadora brasileira assume querer retribuir todo o carinho recebido, e é com a habitual disponibilidade que nos abre as portas de casa, para se dar a conhecer um pouco mais.
É no sítio das Eiras, nas zonas altas do Caniço, que a encontramos, já à espera da nossa reportagem, à porta de casa. “Bem-vindos ao Complexo Balnear Mayra Santos”, brinca, enquanto nos convida a entrar.
Portas abertas, a primeira paragem é na sala de estar, onde a nadadora de águas livres dá início à explicação. A casa onde mora há cerca de 12 anos é um sonho tornado realidade, diz a recordista, que começa por recordar os episódios que a levaram a um sítio onde antes não se imaginava a viver.
“Foi muito estranho ao início, porque eu queria uma casa no Funchal, que ficasse o mais perto possível de onde estava a trabalhar, na Ajuda. Só que, já na altura, as casas nessa zona eram muito caras”, recorda.
“Eu estava a morar numa casa onde pagava 200 euros de renda, em Câmara de Lobos, o que era muito bom, mas a casa era muito pequena”, conta. Era onde morava com a filha mais velha, Nayara, que hoje estuda enfermagem, em Lisboa. Mas com a família a crescer, Mayra, que é também agente imobiliária de profissão, tinha quase tudo certo para mudar para o Funchal.
“Já tinha tudo pronto, mas perdi esse apartamento no Funchal. Hoje em dia dou graças a Deus, porque há coisas que não acontecem por acaso, mas fiquei tão desiludida que não queria ver mais nada”, lembra.
Foi então, quando menos esperava, que apareceu a oportunidade. “Mas era nas Eiras, e eu pensei ‘não quero ir morar para as Eiras’. Lá para cima, para a cadeia? Que coisa feia! Mas, a partir do momento em que entrei aqui, fiquei apaixonada”, refere, alegremente.
Quando chegou a altura de ver a casa, Mayra e o marido, João Duarte, sentiram logo “a vibração”. “Foi tão boa que me apaixonei logo”, explica a nadadora. “Pensámos ‘é esta, tem de ser esta’. Tudo começou assim, e depois foi sempre correndo. Ainda há tempos me encontrei com os antigos proprietários, e agradeci-lhes, porque adoro esta casa. E com as condições que ela tem hoje em dia, eles nem acreditaram que era a mesma. Agora não saio daqui tão cedo”, garante entre gargalhadas.
Por todos esses motivos, “esta casa foi um sonho”, realça, ao sintetizar. “Porque eu estava a viver numa casa arrendada, e para mim, esta casa é um sonho conquistado, o sonho da casa própria. Ainda estamos a pagar, mas é nossa, estamos a pagar por algo que é nosso. É simples, é pequena, mas para mim é a melhor de todas.”
Conquistada a habitação, o processo de torná-la num espaço próprio, à imagem da família, foi sendo desenvolvido aos poucos. “Agora tem mesmo a nossa cara. Até digo que este é o Complexo Balnear Mayra Santos”, atira a nadadora, seguindo com mais uma sonora gargalhada.
A explicação é simples, e não é preciso esperar muito tempo para surja. Nas traseiras da casa, o casal aproveitou o que antes era um pequeno quintal com churrasqueira e um lago artificial para criar de raiz uma pequena piscina interior de natação estática. Ou seja, com um motor instalado, para criar corrente. É o espaço onde a nadadora treina habitualmente, entre uma hora e meia a duas ou três horas, e que é, assumidamente, a divisão favorita da casa.
“Uma das coisas de que mais gosto na casa é poder levantar-me às 5 horas da manhã e descer para a piscina para poder fazer o treino. Sem dúvida, aquele é o meu canto preferido da casa, onde passo a maior parte do tempo”, aponta.
Ladeada do marido e do filho mais novo, Nayan, Mayra não hesita ao destacar a importância do conforto num espaço que sente como realmente seu.
“Eu gosto muito de estar em casa. Já tenho 43 anos, já não estou naquela fase de ir para discotecas. Adoro festa”, diz, soltando mais uma gargalhada, “mas gosto mais de estar dentro de casa, e para mim, o conforto é primordial”.
Por isso, Mayra e o marido foram levando a cabo as pequenas mudanças que hoje tornam indiscutivelmente sua a casa e lhe dão o toque necessário para o conforto.
“É fantástica”, resume. “E agora, com as condições que tem neste momento, com três quartos, tem bastante espaço, e qualquer dia vendemos a casa porque já demasiado grande para nós os dois”, diz, brincando com o marido. “Mas na verdade não penso em vender, por causa daquilo que tenho lá fora”, acrescenta baixinho e com um sorriso, apontando para o “aquário”, como lhe chama.
“Isto era uma churrasqueira, com um lago artificial. Mas, a partir do momento em que comecei a nadar, em 2015, no ano seguinte já estava a ver piscinas. Toda a gente me dizia que era impossível, que não cabia ali uma piscina, mas eu dizia que tinha de caber”, recorda. “Então fizemos, em conjunto, o projeto para tentar encaixar da melhor maneira uma piscina, de forma também a poder aproveitar um pouco do espaço.”
A concluir, a nadadora, que já se tinha tornado na primeira mulher a fazer a travessia entre o Porto Santo e a Madeira, e que bateu, em 2020, o recorde mundial de natação estática, ao nadar mais de 30 horas seguidas, não esconde um dos próximos objetivos: “A minha ideia é bater o meu próprio recorde aqui, em casa”, promete.