PELO ESTREITO ACIMA

Data de publicação
03 Abril 2024
11:32

Na semana passada, narrei-vos as maravilhas da vila de Câmara de Lobos, aproveitando para relatar-vos o percurso até ao Estreito de Câmara de Lobos, experimentamos a Poncha e a Nikita do Palheiro da Adega, e em seguida começamos o nosso pequeno ‘rali espetadas’ do Estreito, na Adega da Quinta, onde aproveitámos para relaxar um pouco e preparar a rota sem desvios até à Fajã das Galinhas.

A Fajã das Galinhas, é para muitos, talvez, uma paisagem desconhecida dentro das muitas que esperamos desvendar nesta nossa aventura. Mas já lá vamos. Primeiro, é preciso ganhar forças para se levantar e entrar no carro - a cada paragem, a gravidade, parece exercer mais força sobre os nossos corpos!

Já no carro prontos a arrancar, e um dos meus colegas grita, do banco de trás, com (demasiada) euforia: “Vamos a isso!” - deve ser da Poncha. Mas ele tem razão. Siga Freitas! Subimos a Rua da Vargem, curva, contra-curva, lá está, outra vez, a esquerda cotovelo, e agora é subir a fundo. Mais à frente, demos com uma das subidas mais inclinadas que já vimos, parámos o carro, conferimos se nos tínhamos enganado – nem por isso! Ganhar balanço, primeira a fundo, e rezar por amor de deus que o carro não vá abaixo. E lá vai ele, o nosso repórter de 4 rodas ‘cego e louco’ pela ladeira acima - quase que fazia faísca no crespo.

Na Estrada Nova do Castelejo, antes da descida para a Fajã, encontrámos uma vista panorâmica desde o Funchal até Câmara de Lobos - difícil de replicar. Encostámos o carro, desligámos o carro e ninguém falou, o silêncio invadiu completamente o carro – foi perfeito!

Agora é descer, acompanhados pelas serras e pelo grandessíssimo vale que cai à nossa direita, imponente, enquanto a estrada preenche-se de vários aromas florestais. Rapidamente, chegamos ao fim do percurso. Agora sim, vislumbramos esta Fajã no seu pleno, mesmo no seu centro. O vale não principia nem se finda, completando-se na nossa visão e perfazendo a nossa tela. Imperdível! O Estreito é muito mais do que muitos conhecem.

Ali, na Fajã, falámos com um senhor que acabado de sair do autocarro, e junto a um pequeno oratório a Nossa Senhora - nascido dentro de uma pequena cova, naquela montanha rochosa. José contou-nos das dificuldades dos que lá moram devido às fortes derrocadas que, por vezes, caiem sobre o vale, colocando-os em “sobressalto” - confidenciou-nos. Apesar destas vicissitudes, sente-se um homem feliz e muito satisfeito por viver na Fajã das Galinhas, recheado da natureza e beleza que repousa sobre o local, vivendo em paz. Agradecemos-lhe muito, prometemos-lhe ali voltar e retomamos o nosso trajeto de volta ao centro do Estreito de Câmara de Lobos.

  • Fajã das Galinhas

DESVENDAR O ESTREITO ... E O VINHO

Chegados novamente ao ponto de partida desta reportagem, junto ao Continente do Estreito de Câmara de Lobos, vimos um grande cartaz onde se lia: “Frango da Guia: Estreito”. Decidimos ir conhecer o restaurante. Entramos no Centro Comercial, subimos as escadas e abrimos as portas do Frango da Guia. Bem sabemos, ainda não eram horas de jantar, no entanto, fomos muito bem recebidos pelo gerente, o Sr. Horácio, que nos deu a conhecer os variados pratos que compõem a ementa: frango da guia, espetada, entrecosto e variados cortes de carne de extrema qualidade.

Apesar de tudo parecer excelente, optamos pelo famoso frango da guia e a sua espetada. Mais que aprovado! Ainda por cima aproximou-se o proprietário, o Sr. Armando, que não nos deu hipótese e ofereceu-nos um Vinho Rosé Tinta Negra, fabricado no Estreito de Câmara de Lobos – sendo esta a Terra do Vinho não havia como rejeitar! Incrível, mesmo no ponto, e ficámos fãs, tanto do frango como da espetada. Tomámos um café na enorme esplanada com uma vista de topo, agradecemos mais uma vez a amabilidade e seguimos a nossa rota rumo ao centro da freguesia.

  • Rua da Vargem, 1º andar, Loja E

Chegados ao centro da freguesia, o JM deambulou um pouco pelos vários recantos que compõe esta terra. Falámos com vários populares e tentamos desvendar um pouco do que caracteriza o Estreito de Câmara de Lobos. Sabemos, que é a cultura da vinha é muito importante e reconhecida tanto pelos que cá vivem e nela trabalham, como um pouco por todos nós madeirenses.

Quer no trajeto de Câmara de Lobos até ao Estreito de Câmara de Lobos, quer até à Fajã das Galinhas, fomos acompanhados para além das bananeiras, em crescendo , de vinhas e vinhas sem fim que aqui se cultivam, predominantemente, castas como a Tinta Negra e a Malvasia - que normalmente são utilizadas na fabricação do Vinho Madeira. Ao contrastar diversas opiniões, uma certeza ficou, há que experimentar o Vinho Seco do Estreito! Por isso nas muitas voltas que demos, tivemos de dirigir-nos ao Bar Azevedo, mais conhecido pela “Barraca”, para experimentar o tão aclamado Vinho.

Ao entrar lemos um placard que diz “até o barraca abana” – a célebre frase eternizada pelos Malucos do Riso. Assim de bom humor, o JM entrou, travando conhecimento com as várias pessoas que nesse bar estavam. Mas que ambiente incrível! Ouvimos estórias sem fim e partilhamos opiniões enquanto ouvíamos o nosso copo a encher-se – assim é que é bom! Fizemos um brinde, de uma forma invulgar, graças a um senhor que lá se encontrava. “Tu que nasceste da videira, que escapaste à neve e ao papo da vinagreira, entra para a tua casa verdadeira!” - assim foi, bota-abaixo! Não queríamos aceitar, mas já que o proprietário, o Sr. José Azevedo, nos fez a gentileza de oferecer mais um (porque queria brindar com o JM), assim foi! E com dentinho! Assim ficámos a conversar e a ‘palitar’, os diversos petiscos que nos traziam e devo admitir que fomos logo convidados para próxima Festa das Vindimas!

  • Rua da Igreja 11, Estreito de Câmara de Lobos

Obviamente, quisemos saber mais sobre a História deste bar. Ao que nos foi contado pelo dono, na ‘mão’ do seu pai, já estava há quase 70 anos, mas que antes, “já era ponto de passagem”. Contextualizou-nos sobre como ainda é um espaço emblemático para os habitantes do Estreito, rematando-nos com: “o Barraca será sempre o Barraca”. Ficámos muito gratos por aquele bocadinho, e pronto assim foi, e decidimos seguir a nossa etapa, rumo, novamente, à espetada.

No centro do Estreito de Câmara de Lobos, tínhamos de visitar a Igreja Matriz, em homenagem à Nossa Senhora da Graça. A igreja foi concluída em 1814, onde anteriormente já existia uma capela, responsável pela criação da paróquia do Estreito. A Igreja Matriz evoca luz, com belíssimos candeeiros, adornada pelas marcantes gravuras e pinturas que a enaltecem. Não podemos deixar de fixar os olhos no teto que se estende da entrada ao altar, que a cada pincelada levou uma dose exacerbada de arte. Simplesmente divino.

Antes de voltar a ‘comer e beber’, quisemos andar um pouco, até para absorver o vinho que parecia um ‘suminho’ mas vinha acompanho de um “cuidado que isto bate”- como avisou o meu colega! Demos uma volta, literalmente, à volta do Centro Cívico de Câmara de Lobos, fizemos um vídeo para as nossas redes sociais, avistando o mar e aos montes, e as casinhas e invadiu-nos aquele pensamento, de que estamos apenas a começar, e ainda falta praticamente uma ilha inteira – mas não estamos assustados, pelo contrário, motivados! Combinamos que, por tanto termos ouvido falar da Noite do Mercado do Estreito, que este ano por lá passaríamos no Natal! Respiramos fundo, e vamos a isso! Siga para o carro. Caia bem uma espetadinha - até porque era necessário ‘enxugar’!

Um jovem que por lá se encontrava, imediatamente, junto ao nosso carro, fez-nos ver de que não estávamos bem estacionados – “Tiveram sorte! Eles andam aí!” – comentou. De facto, podia estar mais bem parado, e aproveitamos a ocasião para perceber onde ir comer mais uma espetada. O rapaz sugeriu-nos dois sítios: O Restaurante Viola e o Restaurante Santo António. Está decidido! Vamos provar um bocadinho dos dois.

Seguimos com o carro, ao que o GPS nos obrigou a virar à direita, fazendo-nos passar por uma rota que já tínhamos passado, mas levou-nos ao destino. Vimos um placard com uma viola, de facto, já tínhamos passado por ali quando subimos de Câmara de Lobos. Estava um casal a sair e aproveitamos e paramos mesmo o carro em frente, mesmo sabendo que eles têm estacionamento.

O Senhor José, percebeu quem éramos e começou por oferecer-nos a sua entrada de Carpaccio e ainda uma Poncha de Tangerina – lá tivemos de fazer o favor! Espetacular! Quer a poncha quer o Carpaccio! Já não sabíamos se íamos à espetada, mas lá teve de ser. O Sr. Adolfo deu-nos a experimentar a especialidade da casa: a Espetada com Flor. Que carne! A nossa gastronomia é única e incomparável.

Foram dois bocadinhos a cada, pois sabíamos que ainda tínhamos mais para experimentar. Visitamos o espaço amplo, a adega climatizada, as carnes maturadas, e as costeletas que saiam para muitos clientes. Sentados numa mesa, em frente à televisão, vimos o resto do jogo de futebol que decorria – clubismos à parte, o meu ganhou! Provámos a sobremesa, novidade no ‘Viola’, a Banana flambeada na Grelha. Tudo 5 estrelas! É hora de seguir para a estrada – já se sabe que por mais que quiséssemos, não podemos ficar muito tempo em cada estabelecimento.

  • PELO ESTREITO ACIMA

Subimos pela Estrada João Gonçalves Zarco acima, com a promessa de que seria o último restaurante do dia. “Que Santo António nos ajude a enfardar mais um pouco” – e assim fizemos as nossas preces ao Santo que dava nome ao restaurante. Depois de parar o carro, reparámos num pequeno jardim junto ao ribeiro que por lá passava. A Dona Rita, apercebendo-se do nosso entusiasmo, juntou-se a nós e explicou que tinha sido ela mesma a ‘fazer erguer’ aquele jardim. “Aos pouquinhos fui fazendo, com muito trabalho, pedrinha a pedrinha, planta a planta, imaginando cada pormenor” – disse-nos a criadora. É disto que a nossa Madeira é feita, visionários em cada recanto!

Sentámo-nos no Restaurante Santo António, chegando-nos rapidamente à mesa um ‘bolinho do caco tostadinho na brasa’, e ainda a presença do Sr. Isidro, o proprietário, que nos descreveu as suas especialidades: “desde a Espetada Tradicional em pau de louro ou com osso, ou então a costeleta de vaca, e se preferirem a espetada de frango” – recomendou-nos. Ora bem, o dia foi longo, mas sabemos que temos de aproveitar ao máximo! Aceitamos a espetadinha com osso, onde a carne se separava do osso, por si só, mais o ‘milhinho frito’ e a ‘batinha’. Estava demais!

A saladinha temperada, mais o vinho tinto que nos serviram, de entre os tantos que disponham na sua garrafeira, ficámos encantados. É de voltar! Não nos choca que estivesse tanta gente por lá! Ficámos por ali, a falar um pouco sobre nós e a conhecer-nos, em êxtase por estarmos a viver isto!

  • PELO ESTREITO ACIMA

A verdade é que nos apercebemos, nesta tarde, que ir à espetada já não é só carne e pão, os restaurantes evoluíram e começam a fomentar a cultura do beber um bom vinho e garantir que este está num ambiente climatizado propício, como manda a lei. Talvez um dia, a Espetada faça parte daquilo a que chamamos Fine Dining, trocando por miúdo, comida fina.

Estamos mais que satisfeitos, foi comer e beber o dia inteiro, está na hora de nos retirarmos! Graças às novas tecnologias, procuramos onde dormir nas redondezas, e encontramos o sítio perfeito. Mesmo aqui ao lado, no Jardim da Serra, e assim, sem mais nem menos, está escolhido o próximo destino. Aqui vai o JM para o Jardim da Serra, a Terra das Cerejas.

Já está de noite, toca a apertar os cintos, ligar os máximos, se for necessário, e subir. Aqui vamos nós! Siga JM! Até para a semana!